
"a Magia Profunda que prometia vida provou-se morte para Edmundo. Ou, ao menos, assim pareceu. No entanto, embora Aslam não enfrente a magia do Imperador de Além-Mar, nem tudo está perdido para o jovenzinho condenado. Aslam apresenta um caminho melhor e mais difícil. Pois, conquanto a Magia Profunda exija sangue pela traição, ela também permite substitutos, e Aslam voluntariamente se entrega no lugar de Edmundo para que a Feiticeira abdique de seu direito pelo garoto e mate Aslam em seu lugar. Assim, a Magia Profunda é cumprida. Mas nem mesmo essa Magia Profunda exaure a visão de Lewis sobre o mundo. Há, ainda, uma magia ainda mais profunda, e ela surge com o amanhecer seguinte ao sacrifício de Aslam. A Mesa de Pedra se parte em dois, e o corpo de Aslam não está mais lá.
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— Mas que coisa é essa? Ainda será magia? — Magia, sim! — disse uma voz forte, pertinho delas. — Ainda é magia.
[…] A feiticeira pode conhecer a Magia Profunda, mas não sabe que há outra magia ainda mais profunda. O que ela sabe não vai além da aurora do tempo. Mas, se tivesse sido capaz de ver um pouco mais longe, de penetrar na escuridão e no silêncio que reinam antes da aurora do tempo, teria aprendido outro sortilégio. Saberia que, se uma vítima voluntária, inocente de traição, fosse executada no lugar de um traidor, a mesa estalaria e a própria morte começaria a andar para trás.
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Esta é a verdadeira imagem da magia em Nárnia, e ela é espelhada em nosso próprio mundo. Conflitos de poder e encantamentos são reais, e eles têm o seu lugar. Porém, debaixo dos duelos de poder e guerras mágicas estão a Magia Profunda e a magia ainda mais profunda, a solidez inflexível da lei moral e a beleza assombrosa do amor sacrificial. Lewis nos lembra de que a substituição é um tipo de magia, uma força misteriosa e sobrenatural que transforma o mundo, sobrepujando toda forma de traição. Em Nárnia, como em nosso mundo, a magia ainda mais profunda vence a magia profunda. Por meio do sacrifício, a misericórdia triunfa sobre o juízo.
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